Jorge Pimentel
Clareou na encruzilhada
Belém, 18/4/2007
– Papai – disse minha filha Robina, então com seis anos, querendo minha atenção – não leia! – Por que o senhor lê? – continuou a menina.
Eu estava relendo “1984”, de George Orwel e para não perder a concentração, ainda ensaiei uma resposta.
– Bem, porque ... – mas, fiquei divagando. Depois resolvi também perguntar:
– Por que vocês – referindo-me a seu irmão Hermom – vêem TV?
– Porque é engraçado! – devolveu a menina, sem titubear.
– Bem, então eu gosto de ler – querendo encerrar o diálogo – porque é engraçado ...
Robina ficou me olhando pensativa, depois dirigiu-se à estante e voltou a atacar:
– Papai, isso é engraçado? – abrindo um livro leu um trecho – “o Paraguai estava quebrado para sempre”. Isso é engraçado?
Referia-se ao livro “Guerra do Paraguai – Genocídio americano”.
Bem, não era engraçado, mas passei a rir muito.
NOTA – Anotação feita na contra-capa do livro “1984”, de George Orwell, que eu estava relendo em 1985. O livro, escrito em 1948, fora relançado em comemoração ao título. O reality Big Brother é inspirado no livro futurista que fala de um sistema de governo totalitário que monitorava os passos de cada indivíduo, através de câmeras instaladas em todas as casas, aparecendo na tela uma figura emblemática de um homem, denominada de Grande Irmão.
07/08/1985
O Paysandu - Papão da Curuzu é um dos três únicos clubes brasileiros a ganhar do temível e famoso Boca Juniors na Copa Libertadores da América, em pleno estádio La Bombonera, em 2003. Antes, apenas Santos(1963) e Cruzeiro (1994) conseguiram essa façanha. E às vésperas de iniciar na terceirona de 2007 a campanha de retorno às séries de elite do futebol brasileiro, publico aqui a croniqueta feita quando caímos ano passado.
Com versos da canção de Ivan Lins, respondi a mensagem de minha filha que também é torcedora Paysandu, como meus demais filhos, quando esta lamentou o Papão da Curuzu na terceirona. “Começar de novo / e contar comigo (o fiel torcedor) / vai valer a pena / ter sobrevivido ...”. Já esperava por isso, apesar de ser o ponto discordante entre colegas e amigos torcedores, quando ainda faltavam umas sete rodadas. Não querendo ser Cassandra, meu vaticínio se fundava na situação de que o apaixonado torcedor não quer ver e nem aceitar, sempre na esperança do milagre, da superação, da volta por cima e outras formas de expectativas positivas. Por muito tempo a geografia vai ser um grande obstáculo para nossos clubes se estes insistirem nos chamados “importados” que não se importam com a gente. Além do mercenarismo devem sofrer com a mudança de hábitos dos amazônidas e com a saudade de familiares e amigos seus, atacados pelo enfado da solidão, principalmente, porque vão lá próximo jogar (Rio, São Paulo, Minas), nem sempre conseguindo rever os seus, para em seguida retornarem para um lugar que não é seu. E mais, as idas e vindas, de um pólo a outro, esgotam física e psicologicamente os atletas. Não vou me ater a escalações por causa do espaço, mas quem quiser vá conferir nos anais que nossos clubes quando tiveram suas maiores conquistas tinham um time com a maioria formada pelos jogadores “prata-de-casa”. E é natural que os nascidos ou criados aqui, mesmo que não estejam vestindo a camisa do clube do coração, de uma certa forma estão defendendo a pátria chamada Pará, um clube que dezenas, centenas de amigos e familiares torcem, fazendo tudo para trazer um bom resultado e compartilhar dos louros nos braços dessa gente, sem contar a massa torcedora. Mas a dura lição está ai. Passada a fase das esperadas e necessárias gozações, tempero de uma saudável rivalidade quase secular, é hora de começar de novo, juntar os caquinhos e virar um fênix (o pássaro mitológico que ressurge das cinzas). E para isso, basta ter sobrevivido como aconteceu!
26/11/2006
Este singelo e rápido escrito não tem outra pretensão a não ser a de alcançar a razão, a reflexão e a consciência de todo e qualquer indivíduo, seja ele doutor, incipiente, patrão, empregado, idoso, jovem, enfim, a todos as pessoas integrantes da mais comum vítima dos crimes ambientais: a coletividade. Não iremos, portanto, nos ater a teorias jurídicas e aspectos técnicos, biológicos, geológicos ou qualquer outro de cunho acadêmico. Não faz muito tempo, quando ainda não se falava tanto em direito ambiental, é certo que o leitor mais velho já ouvira falar de outros ramos do direito como o constitucional, administrativo, civil, penal, trabalhista etc. Apesar de a Política Nacional do Meio Ambiente ter sido instituída há 24 anos, através da Lei nº 6.938, de 31/08/81, pouco se sabe e muito se necessita aprender, pouco se faz e muito há que ser feito pelo meio ambiente. A Constituição Federal de 1988 ao tutelar o meio ambiente estabelece em seu artigo 225: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.Em 1998, com o advento da Lei nº 9.605, também chamada de Lei da Natureza, foram dispostas as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Interessante atentar que a lesão ao meio ambiente nem sempre afeta a uma única pessoa (física ou jurídica) ou a administração pública (federal, estadual ou municipal), como ocorre em outros crimes como o homicídio, o roubo, o dano, o tráfico de entorpecentes etc. O crime ambiental sempre atinge a coletividade, ou seja, a várias pessoas integrantes de uma parte do planeta. Assim, quando o meio ambiente é lesado, essa lesão atinge a todos nós, inclusive parentes e amigos, sem contar aquelas pessoas que estão por nascer, que já encontrarão um ambiente degradado e poluído, concluindo-se que além do resultado inicial, a extensão do dano ambiental se projeta no espaço e no tempo. A poluição de um rio, por exemplo, irá atingir várias pessoas e no seu curso, às vezes transpondo fronteiras, atingirá outros Estados ou Países e via de conseqüência pessoas desconhecidas do autor do crime. A fumaça originada de uma queimada será levada para a atmosfera e irá comprometer as chuvas e a camada de ozônio cujos efeitos irão refletir sobre todo habitante do planeta. É preciso atentar que quando alguém pratica um crime ambiental, não pode imaginar sua extensão espacial ou temporal, pois seu ato, como já mencionamos, poderá vir atingir pessoas desconhecidas e as que estão por nascer, inclusive seus descendentes. Portanto, qualquer um, seja quem for, além do dever legal, tem o dever moral de defender e preservar o meio ambiente, com todos os aspectos que o compõe: os animais, a floresta, os rios, a atmosfera, o solo, o patrimônio histórico ou qualquer outro bem tutelado pela lei ambiental, em seu prol e de toda a humanidade.
Lá pelo ano de 2000 eu fiz uma melodia para o Salmo 133, um salmo que eu já lera muito e que me levou a dar o nome HERMOM ao meu primeiro fi...