As
providenciais formigas
Podem umas poucas formigas salvar uma vida humana?
Parece absurdo, mas é plenamente possível. Há muito não reclamo dos reveses da
vida. Não porque seja conformista inato ou porque me obriguei ou sou obrigado a
isto por imposição de alguém. Não. Além da confiança em DEUS, na sua infinita
misericórdia, bondade, poder e tudo mais, minha conformação com os
desapontamentos, com as desilusões, com os prejuízos de ordem material ou
moral, com as decepções, se fortaleceram em fatos passados durante o curso da
minha vida. Venho vivenciando e aprendendo lições. Algumas inesquecíveis
ocorridas da infância à juventude e desta aos dias atuais. Uma delas eu lembro
até a data. Foi há mais de 40 anos, na noite de 31 de dezembro de 1971. Na expectativa daquele réveillon, no início da noite aprontei-me para sair. Morava com meus
pais num já antigo edifício situado no bairro de São Brás, no início da atual
avenida Governador José Malcher e, por volta das 19 horas, após atravessar a
movimentadíssima avenida Almirante Barroso cheguei ao ponto de ônibus
localizado próximo a confluência com a avenida Ceará, onde havia um grande
relógio no alto de uma coluna. Naquele local era e ainda é grande o fluxo de
passageiros de ônibus das mais variadas linhas que fazem parada numa extensão
de mais de 50 metros. Eu chegara ali com destino ao bairro da Marambaia onde
incialmente moramos quando viemos do interior e se concentrava a maioria de
meus colegas e amigos. Havia poucos minutos que eu estava naquela parada de
ônibus, em pé no passeio público, quando senti literalmente um formigamento em
um dos tornozelos, constatando em seguida que eu ficara próximo a uma passagem
de formigas, tendo algumas delas subido pelos meus sapatos. Meu impulso foi
sair de onde estava batendo forte com os pés no solo para livrar-me dos insetos
que estivessem nas pernas da calça e nos sapatos, enquanto eu batia com as mãos
espalmadas sobre os tornozelos. E, concomitantemente, desloquei-me lateralmente
para a esquerda. E nesse deslocamento afastei-me aproximadamente vinte metros
de onde inicialmente me postara. E não havia ainda passado nem meio minuto
quando vi uma Kombi que trafegava no sentido do bairro do Marco chocar-se
lateralmente com outro veículo mais pesado trafegando no mesmo sentido. O
impacto fez a Kombi descontrolar, capotando espetacular e lateralmente,
passando exatamente no ponto onde eu estivera segundos antes, indo parar junto
ao muro de um terreno. Tomei um susto e respirei aliviado sussurrando um rápido
agradecimento ao Altíssimo pelo livramento que acabara de ser presenteado
naquele fim de ano, pois, era evidente que se eu ainda estivesse no local onde
fora atacado pelas formigas, fatalmente eu teria sucumbido, provavelmente
esmagado, ao impacto violento de veículo automotor pesando uma tonelada. A
seguir, ainda sob o impacto emocional, dirigi-me com outras pessoas que ali
estavam, para ver o que acontecera com os ocupantes do veículo capotado,
constatando que os dois, incluindo o motorista, saíram ilesos. Mais tarde eu
faria as primeiras narrativas do fato, concluindo que se não fossem aquelas
providenciais formigas eu não teria saído do lugar onde estivera inicialmente
e, consequentemente, seria atingido por uma tonelada de ferro em velocidade. E
não estaria contando a história como faço neste texto. Com o passar dos anos
até os dias atuais quando eu perco algo, se algo não sai como eu gostaria que
fosse ou quando acontece uma coisa desagradável logo eu imagino que aquilo
aconteceu ou está acontecendo para evitar um mal maior. E assim tem sido até
agora, graças a Ele.
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