sexta-feira, julho 11, 2008

Amazônia, conhecimento também é soberania

De alguns anos pra cá, vez ou outra surge uma notícia de que os estrangeiros têm afirmado que a Amazônia não pertence ao Brasil e sim a toda humanidade, de que os brasileiros não sabem preservá-la e que estão levando-a à destruição etc. Diante desse absurdo surgem as mais estapafúrdias manifestações de defesa a essa forma de ameaça à soberania nacional, divorciadas de seu verdadeiro contexto. Este é um assunto para muito debate e muita discussão, mas que não tem merecido maior atenção nas pautas do Congresso Nacional e nem da diplomacia tupiniquim, até como forma de esclarecimento à Nação. Um discurso aqui, uma manifestação ali, e a coisa segue seu curso lentamente. Mas, uma coisa é inconteste: a realidade é que os brasileiros não conhecem a sua Amazônia, os amazônidas não conhecem sua região detentora da maior biodiversidade da Terra e que do ponto de vista científico, a floresta é também um tesouro biológico quase totalmente desguarnecido, conforme afirma Adalberto Luís Val, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). E antes de começar a esbravejar de que a Amazônia é nossa e ninguém tasca, de que a Amazônia é dos brasileiros e outros retruques do gênero, é preciso que todos os brasileiros conheçam a sua Amazônia. Não basta querê-la, não basta a vontade de defendê-la. É preciso conhecê-la. “A soberania da Amazônia não é uma questão bélica, é uma questão de conhecimento”, diz o diretor do Inpa, fazendo ainda uma afirmação mais pra lá do que óbvia, de que para a defesa de alguém ou de algo, o primeiro passo para proteger é conhecer. Claro, como poderemos nos arvorar a defender algo de que pouco sabemos ou de que nada conhecemos? Na última reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ocorrida em julho do ano passado, nesta capital, seu presidente Ennio Candotti ao discursar, referindo-se aos acordos do Brasil com a Bolívia, Venezuela e Argentina, sugeriu que, ao se pensar e negociar acordos tarifários para os mercados da economia e da energia, seus presidentes pensassem também no intercâmbio científico e universitário, e que mais que um gasoduto atravessando a América Latina, precisamos de um “cerebroduto”, um “matemaduto”, que promova a circulação de idéias e competências e que acelere a formação de engenheiros, biólogos, geólogos, historiadores, antropólogos para a região. Candotti defendeu que a educação é hoje a principal reivindicação nestas áreas de ocupação consolidada. E eu acrescento a educação ambiental, seja de caráter formal ou não-formal. A realidade amazônica quanto a pesquisa é desesperadora, pois há anos que se vem batendo na tecla de que 70% de pesquisadores na Amazônia são estrangeiros e essa informação tem sido divulgada regularmente pela mídia sem que haja uma demonstração efetiva de que o alerta ensejou a modificação da consciência do Estado brasileiro nesse sentido. Se a nossa soberania fosse medida pela quantidade de cientistas e pesquisadores existentes na Amazônia, eu diria que há muito já a perdemos, precisando recuperá-la o quanto antes, mesmo que seja aos poucos. Algo deve ser feito nesse sentido, devendo cada um creditar sua contribuição, seja através da representação popular, seja através de qualquer meio legal e legítimo existente na sociedade civil organizada, em defesa não só à região como a pretensa ameaça à soberania nacional, reivindicando maior investimento e maior número de pesquisadores brasileiros na região, como também pela educação ambiental aos seus povos.

(Publicado no jornal FOLHA DO POVO, de 11/07/2008 - Belém - Pará - Brasil)

Um comentário:

cardoso disse...

Meu caro Roberto, o e-mail do delegado Protógenes é este:

protogenespq@hotmail.com

Também, como a quase totalidade dos brasileiros, sei reconhecer e admirar uma raridade. Protógenes não é obra do homem, embora sendo filho, é uma dádiva de DEUS

Ariston Álvares Cardoso
Goiânia-Goiás

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