
DEDICATÓRIA - Dedico este conto aos meus dois filhinhos - Jordão, 5 anos, que apesar da pele embranquecida, se diz um indiozinho, e a Israel, 2 anos, que parece ir no mesmo caminho.
A polícia, o MP e o profeta
A recente decisão da 2ª turma do Supremo Tribunal Federal (STF) de que o Ministério Público (MP) pode também investigar a prática de crimes, atribuição originária das polícias civil e federal, consideradas polícias judiciárias, fez-me lembrar a parábola que o profeta Natã apresentou ao rei Davi. Segundo as Escrituras, o profeta foi até o rei e disse que havia numa cidade um homem rico e outro pobre. O rico possuía muitíssimas ovelhas e vacas, enquanto o pobre apenas uma pequena cordeira que crescera com ele e seu filhos, do seu bocado comia, do seu copo bebia, dormia em seu regaço e a tinha como filha. Um dia o homem rico, para atender um de seus convivas, mesmo tendo a disposição seu imenso rebanho, abateu a pequena cordeira do homem pobre. O rei ao ouvir tal relato furiosamente condenou o ato ambicioso do homem rico, vindo a seguir saber que ele próprio era esse homem, pois, tendo numerosas esposas e concubinas, havia tomado a única mulher de seu general Urias, mandando depois matá-lo. Pois bem, o Ministério Público até 1988 era um órgão vinculado ao Poder Executivo, com algumas funções, mas seus integrantes, diante de intenso e incessante lobby junto ao legislador constituinte, além das incumbências, conquistaram na Carta Magna outras funções além das que já possuíam, chegando a nove. Mas, não conseguiram a décima! Não que não tivessem postulado por ela, a de poder exercer a investigação criminal, atribuição que já era das polícias civis e federal. Todavia, eles não sossegaram, e durante a tramitação de sua Lei Orgânica, sancionada em 1993, tentaram inserir essa função, mas, novamente a pretensão foi frustrada. Nem por isso deixaram de perseguir o intento, passando, mesmo não havendo previsão legal, a realizar as investigações das quais são sequiosos, deixando de lado o exercício pleno de suas nove funções constitucionais, além das incumbências. De tanto insistir, aquilo que não conseguiram com os legisladores eles vem conseguindo no Judiciário. Os membros do MP, certamente os federais, cujos integrantes são denominados de procuradores da República, com os de maior hierarquia atuando junto a maior corte de justiça do País, o STF, obtiveram, diante de muita insistência, e ponha insistência nisso, a fazer o que fazem as polícias judiciárias. A única atribuição constitucional das polícias agora é repartida com promotores e procuradores da República. Como isso acabará? Só o tempo dirá. Como na parábola de Natã, os membros do MP não se contentando com o que tem, partiram ávidos para a única atribuição das polícias. Como no dito popular: o saco do ter não enche. O término da parábola encerra com o profeta dizendo ao rei que este teria tomadas suas mulheres e dadas ao próximo. Bem, se alguém com funções demais não exerce integralmente seu cumprimento, alguém certamente findará por fazer.
(Através deste singelo texto homenageio meu netinho Natã)
A marca de Zorro nas polícias
Sempre que vejo na mídia em matérias policiais imagens de delinqüentes e material produto de crime tendo como pano de fundo um banner com brasões e insígnias policiais eu me lembro da “marca de Zorro nas polícias”, cuja expressão eu ouvi pela primeira vez pronunciada por um oficial da Polícia Militar da Bahia há cinco anos em palestra realizada na capital baiana. É preciso, antes, esclarecer ao leitor mais novo, quem é o Zorro. Nas décadas de 60 e 70, no cinema e na TV, faziam sucesso o Zorro caubói e o Zorro espadachim, personagens justiceiros que escondiam suas verdadeiras identidades atrás de uma máscara negra. O espadachim, perseguido sempre pelo obeso sargento Garcia, a cada ação realizada, sempre com sucesso, é claro, insculpia a letra “Z” com a ponta de sua espada na testa do bandido, nas paredes ou em qualquer parte visível do local onde estivera em ação, como marca de seu triunfo. Pois bem, há alguns anos policiais de todas as esferas, sem distinção, quando prendem criminosos e apreendem produto de crime (drogas, armas, munições e objetos e dinheiro furtado, roubado ou obtido de alguma forma criminosa) perdem uma parte de seu precioso tempo para realçar suas atuações e de suas corporações, inserindo suas marcas (brasões e escudos) no mesmo lugar onde são fotografados os presos e exposto o material apreendido. E na falta eventual desses escudos é utilizada toda sorte de identificação: distintivos, bonés, jaquetas e outros objetos para por em destaque a instituição que realizou o serviço, valendo até utilizar munições para, de forma bem arrumada, montar as siglas do segmento que prendeu e apreendeu. E essa mania já se estende a outras instituições como a Polícia Rodoviária Federal, Guarda Municipal, Ibama, e por aí vai. E essa prática sem sentido já virou espécie de ritual, sem nenhum resultado prático a tornar eficaz ou melhorar a prestação do serviço, a não ser evidenciar de certa forma a ingenuidade de quem se presta a tal tipo de exteriorização de vaidade, servindo mais para acirrar uma disputa entre órgãos que integram a segurança pública, pois, de concreto nada advém desse modismo com relação ao indivíduo e a coletividade destinatária do serviço. A situação chega a evoluir internamente na disputa entre divisões, grupamentos e companhias de uma mesma instituição ou corporação policial, cada um querendo aparecer mais do que o outro. De quem afinal querem chamar atenção? Dos bandidos soltos, da sociedade que com certeza não se ilude mais, dos governantes e seus assessores diretos? Mera ilusão! Enquanto isso a demanda do crime é assustadoramente crescente e nenhuma política pública ou estratégia a curto, médio e longo prazo parece ser posta
A verdade do procurador
Parece absurdo, mas estimativas do Ministério da Saúde revelam que diariamente no Brasil 290 mil pessoas dirigem alcoolizadas. E o excesso de bebida muitas vezes destrava a língua e revela o caráter do homem, emergindo aquilo que jaz no recôndito da alma. Foi o que aconteceu recentemente com um procurador do Estado, ao ser apanhado inteiramente sob o efeito do álcool, segundo teste do bafômetro, indo parar em uma delegacia de polícia, onde passou a lançar diatribes contra os policiais presentes, cuja conduta alcançou difusão nacional. Não tão jovem, nascido em berço de ouro, terceira geração de família tradicional de juristas, com o currículo recheado de títulos conquistados aqui e no exterior, ao se encharcar da “mardita”, da “manguaça”, como qualquer mortal, desandou em revelar o que se passa em seu íntimo. Está no Evangelho que “a boca fala do que está cheio o coração”. A situação me trouxe à lembrança a batalha “tipo Davi e Golias” que a categoria de delegados de Polícia trava junto ao Judiciário contra o governo do Estado para ter seus vencimentos paritários aos da categoria do bebum multi-diplomado, a sonhada isonomia, cuja luta se arrasta há mais de quinze anos, parecendo ainda longe seu desfecho. Os procuradores nunca externaram o que se imagina que pensam de nós, mas um deles não conseguiu segurar. E “se achando”, como coloquialmente virou moda, até com certa razão, vomitou seu aziúme. Pois, sendo detentor de maior conhecimento técnico, defendendo o Estado dos ataques judiciais ao erário, a maioria motivada pela má gestão de seus agentes, a começar pelo maior deles, acha que merece gozar os privilégios de uma casta de servidores aristocráticos, enquanto, os policiais, que defendem mal, que se diga, não porque não se esforcem, mas pela indigência de condições, mas defendem o cidadão, ou melhor, a coletividade, dos ataques à segurança de seu patrimônio e da sua vida, estão destinados a receber do mesmo Estado um tratamento de dahlits, na concepção do mesmo procurador. Contra as imagens e sons gravados dos fatos não há argumentos. Afora o crime de trânsito, pelas concepções doutrinárias o procurador não cometeu desacato, porque, apesar de sua douta formação, não podia avaliar sua conduta quanto as ofensas irrogadas à honra do servidor público no pleno exercício de suas atribuições. “Tu és um otário, eu posso de chamar de otário, tu não pode, sabia disso?”, “tu vai ser segurança de gente que vai te pagar, tu vai ficar gordo ... tu vai virar corrupto um dia ...”, “eu sou advogado, eu sou procurador do Estado”, “tu sabia que tu é babaca”? E nesse tom o doutorzinho desfiou tudo o que seu coração guarda: o preconceito, o nojo, o desprezo, por quem desempenha uma atividade simples, modesta, humilde, mas tão importante, tão necessária quanto a do advogado do Estado que enche a cara e sai dirigindo pela cidade, colocando em risco sua vida e a de seus semelhantes, principalmente os pedestres. Se não fosse contido, poderia, sabe Deus, imitar o deputado paranaense que recentemente, em condições semelhantes, ceifou duas vidas ainda jovens. Devia ele ficar eternamente agradecido por ter sido preso, interceptado ainda com vida, sem maiores prejuízos para si e para outrem, com sua integridade corporal preservada, diferentemente como ocorreu com o parlamentar, evitando maiores dores a sua família e famílias alheias. Em outro país, quem sabe, mesmo que não fosse para a cadeia, ele iria passar um bom termpo realizando serviços educativos à comunidade, a chamada sanção de cunho pedagógico, como forma de minorar seu ato, não bastando seu mea culpa simplório. Mas, um fato foi revelado: o conceito que o procurador tem de policiais, incluindo delegados, contra quem litiga em prol do Estado.
Lá pelo ano de 2000 eu fiz uma melodia para o Salmo 133, um salmo que eu já lera muito e que me levou a dar o nome HERMOM ao meu primeiro fi...