quinta-feira, maio 31, 2007


Jorge canta Verequete


Jorge Pimentel é o cara. Ao seu patronímico arguo suspeição por motivo de foro íntimo, como usam (e andam abusando) os magistrados. Contudo seu prenome é de santo guerreiro, escritores e artistas, como, Amado, Orwell, Benjor, Harrison e tantos outros. Mas, escrevo pra falar de uma faixa do CD “Meu Canto” (que merece um comentário à parte), de Vicente Filho, que traz a marca multiuso de Jorge, parecendo aquela história do goleiro que sai da sua área pra bater escanteio e depois corre pra pegar o rebote e fazer o gol do título. É quase isso, mais que isso, o cara compôs algumas das faixas, tocou e produziu o CD. Gol de placa! Tenho ouvido o disco a semana toda, não sai do aparelho sonoro do meu carro. Gostei do conjunto da obra, mas é a faixa “Três Caboclos Encantados” que vou comentar, a que mais gostei até agora. Acho que fui influenciado por tê-la ouvido pela primeira vez interpretada pelo próprio autor. A música é um primor. Melodia e letra, harmonia e arranjo se casam. E a batida é esplendida, parecida com o carimbó de Marapanim e Maracanã minha terra. A composição, que é uma baita homenagem ao mestre Verequete e posso garantir, é muito melhor que o filme “Chama Verequete” mesmo que não o tenha visto até agora. Jorge usa imagens, chamadas de ícones pelo modismo, que só os poetas sabem imaginar e como fazer. E faz e acontece na trilha do imaginário, e sua generosidade atribui uma importância galáctica ao homenageado. O nascimento na alta madrugada, o clarear na encruzilhada, o canto do galo, remetem ao nascimento do Homem. E o trinar da passarada num canto carimboleiro é pura poesia. A expressão banzeiro é por demais oportuna no sentido da agitação que se faz com o esperado nascimento de uma pessoa, também ligada a agitação das águas em nossa região litorânea, seguida da coloquial pareceiros que se ajuntaram. Irretocável! E o ápice da homenagem se faz com a chegada dos três caboclos encantados que dão título a composição, trazendo mimos ao recém-nascido. Essa construção complementa a metáfrase do maior nascimento, tanto pelos presentes como pela analogia aos Três Reis Magos que há dois mil anos trouxeram ouro, incenso e mirra. A música encerra com o nome do homenageado com a modulação das cantorias sacras, separando o antepositivo (vere) de verecúndia, no sentido de reverência, fecho de ouro da homenagem. Quando Jorge, após executá-la, na intimidade da família, sábado passado, disse que o mestre ao ouví-la resmungou que não era carimbó, me manifestei imediatamente dizendo que se Mozart ressuscitasse e fosse fazer uma homenagem a alguém, provavelmente faria uma sinfonia. E depois, minha mãe que é daquelas bandas e conhece dessa manifestação cultural, identificou logo com o ritmo de sua terra. Se eu não tinha dúvidas, agora nem corro o risco de ter. O mestre em sua ingenuidade não percebeu que foi a maior homenagem que já recebeu, num caso de fã maior que o ídolo. Jorge fluiu o que tem em seu sangue amazônida e o que sua alma bebeu nas idas e vindas a Algodoal, de suas passagens por Marudá e Marapanim e das noites de luar naquelas paragens, cujos batuques contribuíram para suas feições de compositor. O trabalho alça o autor ao panteão dos grandes da música popular mesmo que outros não achem. Por mim, fico feliz pela composição, por sua contribuição a cultura e pelo trabalho realizados por um conterrâneo e na terra. E mais, porque o cara é meu primo!
 
 
 
Três caboclos encantados


Jorge Pimentel
Quando nasceu Verequete
Era alta a madrugada
Clareou na encruzilhada
Galo cantou no terreiro
Se ouviu rufar de pandeiro
E bumbá tremer a mata
Trinou toda a passarada
Num canto carimboleiro
Quando amanheceu o dia
Foi que aumentou o banzeiro
Caboclo cantou toada
Se ajuntaram os pareceiros
Fazendo a maior zoada
E a roda de carimbó
Correu solta no terreiro
Remando de muitas águas
Chegaram de montaria
Três caboclos encantados
Na hora da Ave-Maria
Trazendo cachaça e fumo
Ganzá, banjo e clarinete
Chapéu de feltro e tambor
De presente a Verequete
É vê ...Verê ...
Verequete aiêê...

Belém, 18/4/2007

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